Ciclotour Punta del Este até Colonia del Sacramento parte 2

Sexto e sétimo dias: Punta Del Este x Piriápolis

Desta vez, ao contrário da minha última viagem ao Uruguay, tínhamos o tempo ao nosso favor, e como a ideia era curtir, resolvemos ficar por dois dias em Punta Del Este. Aproveitar para dar uns roles ostentação de bike no meio de todo o glamour e sofisticação da praia mais charmosa das terras do Hermano Mujica. E foi exatamente isso que eu fiz no sexto dia. Enquanto o Ricardo ficou aproveitando o camping,  peguei a magrela e fui direto dar um giro até o Puerto de Punta Del Este.

Seguindo sempre pelas Ramblas das praias Brava, El Emir e Playa de Los Ingleses. É um passeio com um visual completamente diferente do que a viagem apresentava até então.  Para quem gosta de barcos, e tem fetiches malucos por veleiros, como é o meu caso, o Puerto é um espetáculo de deixar qualquer criança alucinada. Dá vontade de bater de porta em porta, pedindo emprego embarcado em uma daquelas maravilhas e sair pelo mundo navegando ao sabor dos ventos… (Mutley acorda! Você está sonhado de novo!)

Na volta do passeio, fui tratar de fazer um almoço, já tarde. Depois já de barriguinha cheia, fiquei de papo com o Ricardo e foi nesta hora que chegou mais uma dupla de ciclistas no camping, Gutembergue e Chile, paulistas que estavam na estrada desde Rio Grande e tinham como destino final a cidade de Montevidéu. Ficamos em altos papos e risadas até anoitecer, e depois de um jantar regado a algumas cervejas Patricias de litro, fomos dormir pois no dia seguinte tínhamos que pegar a estrada novamente.

Mais uma vez o plano era sair bem cedo, sendo que o Ricardo saiu na escuridão, tocando por Maldonado para pegar a Ruta Interbalnearea, enquanto eu saí cerca de duas horas mais tarde, com a intenção de seguir pela orla de Punta Del Este, passando pela Playa Brava e Playa Mansa, sempre o mais próximo do mar, ainda que fosse o caminho mais longo pois acreditava que o visual iria retribuir esse esforço extra. E assim foi.

Depois de sair de Punta, já na Ruta Interbalnearia, observando no GPS, encontrei uma rota bem próxima ao mar e ao chegar no entroncamento com essa estrada, perguntei para um senhor que estava ali parado se a estrada era boa e tranquila e a resposta positiva me fez ir para lá direto, saindo da rodovia e seu movimento intenso. Bingo! Logo estava numa estradinha de terra, quase deserta e bem na orla do mar, cheia de subidinhas e decidas gostosas de fazer e com um visual que surpreendia em cada curva. Várias praias com um visual roots típico uruguaio. Fui seguindo sem muita pressa, escutando um som e fazendo algumas fotos. Acho que já de tão distraído com o caminho e acostumando com o sol e o vento contrário, quando percebi, já estava em Piriápolis e fui logo procurar o camping Piriápolis , onde o Ricardo já estava com o seu circo armado. Bebi um pouco de água e tratei de armar a minha tenda, largar minhas tralhas para dentro e só então almoçar e descansar. Acho que duas horas depois, apareceram os nossos camaradas paulistas e novamente fechamos uma roda divertida de papo, causos e risadas… Onde quer que junte um grupo de malucos desta natureza, é risada certa e diversão garantida.

Resumo:

Distância percorrida: 54 kms

Custo da diária camping: 250 pesos

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Oitavo Dia: Piriápolis x Parque Del Plata

Sábado dia 10, céu azul e tempo bom. Acordei bem disposto e ao mesmo tempo sem muita pressa de sair. O destino do dia não estava muito longe, cerca de 50 quilômetros apenas. Como nos dias anteriores, Ricardo e eu, escolhemos estratégias diferentes de chegar ao próximo destino. Optei pelo caminho mais longo, caçando sempre que possível a orla do mar. Mais uma vez o pedal era cheio de surpresas e a cada curva uma paisagem para contemplar.  Segui desta maneira por aproximadamente 15 quilômetros, e logo em seguida, fui obrigado a voltar para a bastante movimentada Ruta Interbalnearea, mas que ainda assim, oferece um belo acostamento que dá muita tranqüilidade e segurança para quem está pedalando. Fui seguindo devagar e sem nenhuma pressa, dando uma paradinha aqui, outra ali, para beber água, beliscar alguma coisa e pensar na vida, nessa coisa da existência humana. Geralmente enquanto pedalo, ou fico cantando um mantra (repetindo uma música mentalmente), ou filosofando sobre as coisas da minha vida, ou ainda, conversando com Deus.

Passando do meio-dia, avistei a ponte que antecede a entrada do Parque Del Plata, faltava localizar o camping que para minha surpresa, estava praticamente no pé da ponte, e ao cruzar, já consegui ver o Ricardo com sua Mini Pack discreta já montada. Saí da ruta e fui direto para o local onde o circo estava armado, bem embaixo da sombra de uma bela árvore. Montei meu acampamento, almocei e como de praxe, dei aquela “jiboiada” forte.

Como estava muito quente, não fizemos outra coisa que não fosse ficar naquela sombra na beira do belo Arroyo Solís Chico até o cair da noite. Falando em noite, essa foi a pior noite para mim, pois o camping fica bem próximo da Ruta Interbalnearia, e devido ao barulho do movimento de carros, não tive um bom sono.

Resumo:

Distância Percorrida: 49 kms

Custo da diária do camping: 250 pesos

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Nono dia: Parque Playa Del Plata x Montevidéu

Como não tinha jeito de dormir bem com o barulho dos carros na Ruta Interbalnearia, acabei levantando bem cedo, antes do sol, e depois de rever o briefing da missão do dia, junto com o Ricardo, que saiu antes de mim, seguindo pela Interbalnearia. Desmontei meu acampamento e também coloquei a bike na estrada, só que seguindo pelo caminho da orla. Era 6:30 da manhã de domingo,  olhando no GPS logo achei uma avenida na orla e para lá segui. Nada de vento contra, temperatura agradável, uma benção para quem tinha tido a pior noite de todas.

Fui pedalando tranquilamente, apreciando o visual da praia até que num dado momento acaba o balneário, e todos os caminhos apontam para a Ruta Interbalnearia que é muito movimentada mas como se tratava de um domingo cedo da manhã, estava bem tranquila. Neste trecho da Interbalnearia, passei por duas placas que proibiam o tráfego de bicicletas, mas como o GPS não mostrava outra alternativa, segui por ali mesmo, cerca de 9 quilômetros sem problemas. Acredito que num dia de semana e num horário de rush, pode acontecer de sofrer alguma abordagem policial, pois já se trata de uma via expressa. Assim que cruzei a ponte sobre o Arroyo Pando, o GPS já me dava algumas alternativas e sem pensar muito, saí da Interbalearia e caí novamente na direção da orla.

Depois de alguns minutos de pedal, localizei o início da Rambla Costanera, uma avenida de 15 quilômetros, já nas cercanias de Montevidéu. Na medida em que avançava rumo ao centro, já começava aparecer pessoas correndo, passeando com seus cachorros e muitos ciclistas. Era o sinal de que já estava dentro da metrópole. Fui curtindo o visual dominical, sempre pela orla e vendo no horizonte na minha frente, os grandes prédios do centro, onde fica a localização do hostel que combinei encontrar com o Ricardo.  Literalmente entrei em Montevidéu pelo cartão postal. Uma praia terminava e começava outra, pessoas na areia tomando mate, jogando bola e sentadas em cadeiras, curtindo um típico domingo de praia e sol. Não poderia ter escolhido dia melhor para chegar!

Seguindo em frente, parei no monumento que tem o nome de Montevidéu em letras gigantes, fiz aquela foto momento turista e tratei de localizar a rota para o Planet Hostel, que fica próximo. Chegando lá, pouco depois das 10 horas da manhã, encontrei o Ricardo que me aguardava e já tinha reservado um quarto para nós.  Depois que quase dez dias dormindo no chão, não seria ruim dormir numa cama. Levamos as tralhas e as bikes para dentro do hostel e fomos descansar um pouco para depois dar um passeio e comer algo.

Já com as baterias recarregadas, pegamos algumas informações no hostel sobre onde comer e a localização da rodoviária, onde pretendíamos passar para ver como estava a questão das passagens de volta para o Brasil.

Depois de fazer um lanche, fomos ver as passagens e ao chegar no guichê da TTL, para ver valores e saber como estava o movimento, fomos alertados pelo atendente que em função das festas de final de ano, poderíamos ter problemas se resolvêssemos comprar a passagem na hora. Diante desta informação, fizemos uma rápida reunião de cúpula onde mudamos um pouco o nossos planos. Resolvemos seguir de ônibus até Colonia Del Sacramento, pois o tempo já estava se esgotando e o caminho até lá não era dos mais atrativos, indo de ônibus, ganharíamos mais dois dias para curtir lá naquela que é a cidade mais antiga do Uruguay.

Tudo acertado, passagens para Colonia Del Sacramente e Porto Alegre compradas, demos mais uma volta pelo belo centro de Montevidéu e retornamos para o hostel para descansar e se preparar para no dia seguinte pegar o ônibus para Colonia.

Resumo:

Distância percorrida: 57 kms

Custo do quarto por pessoa: 600 pesos

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“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”

 Mar Sem Fim – Amyr Klink

Três dias em Colonia

Segunda-feira, depois dez dias de estrada e mais de 400 quilômetros com muito calor e vento contrário, ainda que eu estivesse no meu íntimo com uma sensação de frustração por pegar o ônibus para Colonia, meu lado pragmático dizia que essa era a decisão correta. Ficar mais dois ou três dias apenas no asfalto com vento contra, chegar em Colonia e já ter que voltar não parecia nem de longe algo divertido e também não estava fazendo nenhum desafio.

Montamos as bikes e a carga, nos despedimos da simpática Andrea, a recepcionista colombiana e ciclista que fez com que nos sentíssemos em casa, fomos para o Terminal Três Cruces, onde embarcamos às 11 horas. Depois de pouco mais de 3 horas, chegamos a Colonia Del Sacramento! Coloquei a rota para o camping Los Nogales e seguimos direto para lá.

Depois de montar o circo, comer algo e descansar, peguei a bike sem carga e fui dar um giro até o centro histórico, fazer um reconhecimento. Fiquei de boca aberta com a beleza rústica e o astral da cidade. Foi amor à primeira vista! Mas quando estava no meio do role, veio um temporal de verão e tive que sair correndo, conseguindo chegar até o shopping, onde me abriguei da rápida tempestade. Aproveitei para pegar umas cervejas para o jantar e voltei para o camping.

No dia seguinte, saímos de manhã para dar outra volta. Rodamos pelo centro histórico e depois fomos a Rambla de Las Americas, que tem uma bela orla de praia, onde tem um lindo calçadão com  muita área verde, praia e tudo mais.

Retornamos ao centro, almoçamos e fomos de volta para o camping para dar um tempo e depois, como combinado, no fim de tarde, fazer nosso último passeio até o Puerto de Yates para curtir o pôr do sol, pois no dia seguinte deveríamos voltar para Montevidéu e tomar o ônibus de volta para as terras brasileiras.

Último dia. Um rápido café e logo na seqüência, começamos a guardar as coisas e seguir para a rodoviária, embarcando para Montevideu de onde viajaríamos durante a noite toda para Porto Alegre.

Ao chegar em Porto Alegre, acompanhei o Ricardo até o hotel onde ele aguardaria o seu voo para Curitiba. Depois de uma rápida despedida do amigo, voltei pedalando para em casa.

Foram dias incríveis que deixaram uma certeza: em breve voltaremos!

 

Resumo:

Custos de camping: 260 pesos por dia

Ônibus Colonia x Montevideu: 700 pesos (ida e volta)

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Observações, dicas e truques:

–  O gasto médio diário com alimentação, ficou na casa dos 300 pesos, sendo que em mais de 80% das vezes, fizemos nossas refeições nos acampamentos.

–  Poderíamos ter feio pelo menos dois acampamentos selvagens: em Playa Del Plata e na Laguna Negra.

– Trocar moeda não é problema, em quase todos os lugares é aceito dólar e Real, é preciso apenas estar atento ao câmbio para não sair perdendo. No nosso caso, compramos pesos no Chuy.

– O transporte das bicicletas nos ônibus no Uruguay é bastante tranqüilo, só aqui no Brasil que para evitar dor de cabeça, fizemos uso dos malabikes.

– Para chegar em Montevidéu de boa, é recomendável escolher um domingo para não passar perrengue na via expressa.

– Os motoristas uruguaios são extremamente cuidadosos e cordiais, e quanto as estradas, tanto de asfalto como de terra, estão sempre em ótimas condições. Rodamos 420 quilômetros sem estres. O Uruguay é um paraíso para ciclo turismo.

Duvidas?

Entre em contato que terei o maior prazer em esclarecer.

Realização:

Trupe Adventure Suricatos Hiperativos

“Nossa zona de conforto é selvagem”

Este relato é dividido em 2 partes, para ver  mais acesse:

Ciclotour Punta del Este até Colonia del Sacramento parte 1

1 Comment

  1. Antonio Carlos Heil 16/11/2018at10:20

    Parabéns pelo relato. Estou pesquisando para ir em outubro de 2019, quando farei 70 anos e pretendo fazer essa rota do litoral do Uruguai.

    Reply

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