Um sonho chamado Ferrovia Funicular

Deste os meus primeiros passos entre trilhos e dormentes das ferrovias espalhadas pelo Rio Grande do Sul, fizeram meu coração bater mais forte, caminhar por inúmeras pontes, túneis e em lugares que chegavam dar vertigem só de olhar me instigavam, assim começou a minha paixão pelas ferrovias, trens e afins.

Conforme foi passando o tempo, encontrei pessoas pelo caminho que eram apaixonadas por ferrovias e seus caminhos, trilhamos muitas vezes pelo Tronco principal Sul entre Bento Gonçalves e Veranópolis/RS e na incrível Ferrovia do Trigo, entre as cidades de Muçum e Guaporé/RS, andei de trem pela Serra do Mar no estado do Paraná e também em meio ao Vale Sagrado dos Incas no Peru.

Durante todos estes anos aprendendo a caminhar sobre os trilhos ou viajando na carona em cima deles, superei alguns medos, passei por pontes e viadutos com mais de 100 metros de altura, no meu simples entendimento sobre o fascínio por lugares assim descobri que essa era uma maneira original de se sentir vivo, sempre disposto a encarar mais um grande desafio.

Fazer a Travessia da Ferrovia Funicular era um sonho, um pouco distante ao meu ver, mas não descartado totalmente, só precisava encontrar as pessoas certas, malucas o suficiente para trilhar sem pressa sobre os viadutos deteriorados dessa linda travessia.

Vou lhes contar uma breve história sobre a Ferrovia Funicular: O nome “Funicular” se dá a um sistema para tracionar trens que funcionou em Paranapiacaba/SP. A concessão inicial era da empresa Inglesa São Paulo Railway (SPR). Inicialmente o sistema foi utilizado para o transporte de café das cidades de Jundiaí ao porto de Santos.
A primeira linha do Sistema Funicular entrou em operação em 1867, onde 7,5 Km de serra foram divididos em 4 patamares. Foi descontinuado em 1970 e onde passava o leito original deu lugar ao sistema Cremalheira que entrou em operação em 1974 e funciona até hoje.

Relato deste sonho chamado Ferrovia Funicular:

Em conversas com uma amiga duas semanas antes do fim de semana de Carnaval, queríamos fazer uma aventura especial, mas não tínhamos um lugar certo para ir, existiam inúmeras alternativas de locais, a única coisa que não tínhamos era muito dinheiro depois de pesquisar muitos lugares decidimos que seria interessante fazer a Travessia Funicular, mas para isso precisávamos contratar um guia para nos levar até lá, pois sabíamos que o local era inóspito e proibido trilhar por lá sem guia.

Depois de muitas conversas com moradores da região, foi indicado o guia Douglas Ramos para auxiliar na realização do nosso sonho, só que em duas pessoas era muito caro se deslocar do estado do Rio Grande do Sul até o estado de São Paulo, então convidamos mais dois amigos apaixonados por ferrovias, que com certeza topariam uma viagem deste tipo.

Programamos a viagem em menos de 1 semana, incluindo todas as despesas necessárias para ir e voltar de São Paulo. Seriam 1.160 quilômetros de carro, cruzando meio Brasil em cerca de 18 horas de viagem aproximadamente só de ida. Entre todos os custos dessa aventura separamos R$ 400,00 reais por pessoa para fazer essa viagem tranquilamente, sem gastos supérfluos e sem exageros.

No dia 24/02/2017 estava marcado o começo da nossa viagem, Adriano Vanz saiu da cidade de Marau/RS chegando até a minha casa na Serra Gaúcha, depois pegamos o carro e seguimos até a capital Porto Alegre para encontrar com nossa amiga Elisa Thomaz, nós 3 seguimos viagem e nos encontramos com o Celso Seeger na cidade de Viamão/RS. depois de tudo carregado e organizado dentro do carro era hora de pegar a estrada. Saímos de Viamão por volta das 02:15 horas da madrugada de Sexta Feira, chegando em São Paulo por volta das 20:30 do mesmo dia.

Ferrovia Funicular
Nascer do Sol em Laguna/SC
Ferrovia Funicular
Subindo a Serra do Paraná/PR
Ferrovia Funicular
Mirante na serra de São Paulo/SP

Deixamos o carro na casa de um amigo do guia contratado e seguimos a pé pelas ruas de São Paulo, pegamos o metro e mais um ônibus até chegar a Paranapiacaba, depois de muitas horas dirigindo, andando de metro, ônibus e a pé chegamos a Ferrovia Funicular, isto já era passado das 02:00 da madrugada de Sábado.

O local escolhido para acampar era dentro de um túnel escuro, fechado por mata atlântica dos dois lados, estávamos exaustos em razão a toda essa viagem maluca, optei por não armar a barraca dentro do túnel, apenas estiquei o isolante térmico em meio aos trilhos e dormi.

Ferrovia Funicular
Eu sou o que está vestindo o saco de dormir vermelho. kkk

Na manhã do segundo dia, acordamos por volta das 09:00 horas, tomamos café, organizamos todos os equipamentos na mochila cargueira e começamos a caminhar. Não deu nem tempo de esquentar o corpo e já avistamos o nosso primeiro grande desafio, cruzar o primeiro viaduto (número 16) da travessia, olhando a primeira vista ela não parecia muito deteriorada, mas conforme íamos avançando por cima dela, víamos o perigo dessa travessia, os dormentes estavam podres e um pouco lisos em razão dos musgos que ali cresceram. Lembro do nosso guia dizer, vão com calma, temos o dia inteiro para caminhar. Devagar e a passos curtos fomos avançando, obstáculo por obstáculo até chegar em uma parte em meio a ponte que não havia mais dormentes, só de olhar para aquilo já dava tontura e vertigem. Nessa parte lembro de agachar, segurar no trilho e ir movimentando os pés bem devagar, pois não queria cair naquele buraco. Veja as imagens abaixo:

Ferrovia Funicular

Ferrovia Funicular

Entre os viadutos e túneis a mata atlântica encobre o antigo sistema funicular, nessas horas a apreensão era sempre grande, pois como já havíamos pesquisado, ali é um lugar propício para se deparar com cobras peçonhentas, como Jararacas, Cruzeiras e também com a cobra Caninana (sem veneno). Recomenda-se usar perneira, luvas e roupas compridas, pois no trajeto há urtigão, uma planta que causa irritação na pele e cosseira quando entra em contato com a pele.

O próximo grande desafio da travessia da ferrovia funicular seria o viaduto 15, este estava um pouco mais deteriorado que a primeiro, neste passamos por cima dos trilhos, pois é a única passagem confiável sobre o viaduto, a parte complicada disso é que existem dois trilhos, um ao lado do outro, no lado esquerdo do viaduto, o trilho do meio era mais alto que o da extremidade, isso fazia com que eu me sentisse mais inseguro ainda, os passos eram bem curtos, pois afinal estávamos de mochila cargueira carregada, com isso aumenta-se o risco, pois se houvesse um deslise qualquer, a mochila podia pender e nos levar junto com ela. Caminhamos devagar, sem pressa, com ajuda dos amigos superamos mais um obstáculo.

Ferrovia Funicular

Depois de passar pelo viaduto 15, passamos por um pequeno trecho de mata fechada e chegamos no túnel 11, este é um pouco extenso e possui abertura em seu interior no lado direito três janelas, ali fizemos uma pausa para comer uns lanches, tomar água e contemplar aquela construção maravilhosa.

Ferrovia Funicular
Túnel de N° 11 – Janelado

Após esse túnel vem um dos pontos culminantes da Ferrovia Funicular, a famosa ponte Grota Funda, a ponte mais alta do percurso, com 60 metros de altura aproximadamente, aqui o medo, pavor e outros sentimentos afloraram, conforme vamos descendo a ferrovia e nos aproximamos do mar, as pontes e viadutos vão ficando mais deteriorados, com enormes vãos livres em seu meio, em alguns trechos da Grota Funda, tive que parar, me abaixar, agarrar nos trilhos, passar de quatro pés e seguir. Não tenho ideia do tempo que demorei para cruzar essa ponte, mas acho que demorei uns 30 minutos ou mais. O medo de altura me impediu de tirar boas fotos ou mesmo filmar, fazia tempo que não passava um perrengue tão intenso como aquele.

Depois de finalmente cruzar a ponte, fomos conhecer o quarto patamar do sistema funicular, ali você consegue perceber a engenhosidade e a grandeza dos construtores ingleses, pois as estruturas são gigantescas, montadas perfeitamente, este patamar é um dos mais conservados de todo o percurso, ali é possível contemplar a estrutura metálica da ponte Grota Funda. Neste local é possível tirar a famosa foto sobre a estrutura metálica em um abismo de aproximadamente 60 metros de altura. não foi fácil subir na estrutura, se equilibrar e tirar boas fotos, pois como sempre a altura e o medo de cair falavam mais alto dentro da minha cabeça.

Ferrovia Funicular
Estrutura metálica da Ponte Grota Funda
Ferrovia Funicular
4° patamar – Ferrovia Funicular
Ferrovia Funicular
4° patamar – Ferrovia Funicular

Após fazer inúmeras fotos, conversar, descansar e fazer alguns lanches, seguimos em direção a cidade de Cubatão.

Hoje em dia os trilhos do sistema Funicular está completamente abandonado e em meio a mata atlântica, então onde não há pontes ou viadutos a apenas pequenas trilhas de mato fechado, muitas plantas urtigões e bananeiras gigantes. Caminhar adentrando pela mata tive a sensação de estar em um filme no Vietnã. kkkk,  em alguns trechos a mata é muito densa, ainda bem que o nosso guia tinha um facão, assim ia na frente abrindo caminho.

A travessia funicular já é uma aventura inesquecível para qualquer pessoa que se aventura por aquela região, assim como o nosso guia falou durante a travessia, ” não é necessário transpassar as pontes deterioradas, algumas delas não existem mais nem os dormentes, a pessoa tem que passar apenas por cima dos trilhos, sem nenhuma segurança” depois de conversar com o grupo todo, chegamos a conclusão que iriamos ir pelos desvios, pois a alguns riscos que são desnecessários.

Passado quatro horas de trilhas, chegamos no 2° Patamar da Ferrovia Funicular, ali seria a nossa moradia durante aquela noite, imagine um galpão enorme, construído tudo de ferro, até o chão era de ferro, tínhamos que andar atentamente, tanto durante o dia quanto durante a noite, pois ali o chão foi construído em blocos, e falta alguns deles, então sempre andávamos atentos, para assim não sofrer nenhum arranhão. Para pegar água por exemplo, caminhávamos até um pequeno córrego que havia ao lado do Patamar, água cristalina, livre de poluição.

No dia seguinte acordamos, arrumamos todos os equipamentos nas cargueiras e voltamos a trilha, neste segundo dia o ponto culminante foi a chegar a Ponte Mãe, está é o lugar mais difícil e perigoso de toda a travessia, na parte de cima onde começa a ponte, a mata já encobriu boa parte de sua estrutura metálica, até é possível passar por cima dela, mas não recomenda-se, pois sua estrutura está totalmente comprometida, pensando sobre isso resolvemos ir pelo desvio, este cruza por baixo da Ponte Mãe.

O guia chegou a comentar que é possível caminhar sobre a ponte, mas um de cada vez, conforme você vai dando os pequenos passos sobre os trilhos e dormentes deteriorados, os pedaços da ponte vão caindo, então ainda bem que fomos pelo desvio. “É bom permanecer vivo”.

Após cruzar os obstáculos da ponte Mãe era hora de encarar o Túnel Pai, o maior túnel desse complexo ferroviário, o local é muito úmido, possui inúmeros morcegos, ali foi o lugar onde avistamos a única cobra do trajeto, um filhote de cobra Canina, com cerca de 50 cm que estava em meio a alguns dormentes ali amontoados.

Depois de passar o Túnel Pai a uma outra ponte com a estrutura muito comprometida e o último túnel da Ferrovia Funicular. Certo que desviamos essa também, depois disso chegamos a última ponte do trecho, está já está desmoronada, o desvio é feito pelo lado de cima, passando em meio a uma cachoeira muito perigosa, com pedras lisas.

Assista o vídeo dos melhores momentos da Travessia Funicular:

Depois de cruzar a cachoeira a trilha começa a ficar mais retilínea, a altitude vai baixando e vemos no horizonte que estamos cada vez mais perto da cidade de Cubatão/SP, no fim do trecho passamos por enorme duto de água, este representa de fato as últimas construções do sistema Funicular, depois dali, seguimos em direção a casa da Tia Nésia, último ponto antes do pátio de manobras da empresa MSR Logística, atual proprietária do sistema de cremalheira usado até hoje para transportar cargas entre as cidades de Paranapiacaba e Cubatão/SP.

A casa da Tia Nésia é um lugar muito acolhedor, ali foi possível conhecer outros aventureiros, que vinham para começar a fazer a Travessia Funicular no sentido Cubatão a Paranapiacaba/SP.

Veja o mapa dessa travessia:

 

33 Comments

  1. Pedro Parente 24/03/2017at07:23

    “Neste local é possível tirar a famosa foto sobre a estrutura metálica em um abismo de aproximadamente 60 metros de altura. não foi fácil subir na estrutura, se equilibrar e tirar boas fotos, pois como sempre a altura e o medo de cair falavam mais alto dentro da minha cabeça.”
    Faltou comentar que tem uma lage bem onde o pessoal bate essa foto, que protege o abismo. Não sei qual o motivo de esconder essa informação, cara!

    Reply
    1. Luis H. Fritsch 27/03/2017at19:41

      Olá Pedro, fotos assim instigam as pessoas a ir conhecer e ver com seus próprios olhos! 🙂

      Reply
    2. Vinicius Martins Sousa 09/09/2020at01:54

      Quero muito fazer a trilha funicular estou namorando para fazer a trilha a meses me de uma ajuda para fazer contato com guias e valores obrigado por enquanto

      Reply
  2. Aline 21/12/2017at18:50

    Tem o contato do guia?

    Reply
    1. Luis H. Fritsch 04/01/2018at14:22

      Olá temos sim, Nelson Mineiro (31 – 99482-9905)

      Reply
      1. Rômulo Bueno 25/10/2019at20:38

        Boa noite, amigo
        Vc tem contato de algum guia de SP?

        Reply
        1. Luis H. Fritsch 28/10/2019at14:47

          Segue contato do nosso amigo e guia da Ferrovia Funicular:
          Whatsapp: 11 94306-0283

          Instagram:
          @douglasfunica

          Reply
  3. Tabata Vieira petreca 29/01/2018at20:11

    Tem um guia de SP capital ou Abc para indicarem?

    Reply
    1. Luis H. Fritsch 30/01/2018at14:03

      Respondido via e-mail!

      Reply
  4. luciano Nerva 20/02/2018at17:23

    Ola, podem me indicar um guia?

    Reply
    1. Luis H. Fritsch 20/02/2018at19:23

      Respondido via e-mail.

      Reply
  5. Valéria 12/07/2018at16:21

    Olá ! Pode me indicar um guia de sp capital ou abc?

    Reply
    1. Luis H. Fritsch 12/07/2018at21:45

      Respondido via Instagram!

      Reply
  6. erica pereira da costa 19/08/2018at16:59

    Contato de guia? Doida para fazer esta travessia

    Reply
    1. Luis H. Fritsch 20/08/2018at10:05

      Respondido via e-mail!

      Reply
      1. Joyce 07/10/2019at17:35

        Boa tarde!
        Poderia me indicar um guia da capital, por gentileza!?

        Reply
        1. Luis H. Fritsch 14/10/2019at10:03

          Respondido via e-mail!

          Reply
  7. Bruna 14/09/2018at11:50

    Oi, tem contatos de guias por favor?
    Obrigada!

    Reply
    1. Luis H. Fritsch 15/09/2018at09:53

      Respondido via e-mail!

      Reply
  8. alex 26/09/2018at12:09

    alguem tem ctto de um guia do abc…e ideia de valor q eles cobram..??

    Reply
    1. Luis H. Fritsch 04/10/2018at18:09

      Olá Alex, pode contatar o Guia Douglas Ramos (11 94306-0283)

      Reply
  9. Gabriel 17/11/2018at10:46

    Bom dia,

    Tem contato de guias?

    Reply
    1. Luis H. Fritsch 19/11/2018at10:36

      Bom dia, sim! Pode falar com o Douglas (11)94306-0283!

      Reply
  10. Allan 14/03/2019at11:05

    E onde que acaba os trilhos??

    Reply
    1. Luis H. Fritsch 14/03/2019at11:20

      A travessia termina em Cubatão/SP

      Reply
    2. Rodrigo Godoi 01/05/2019at23:14

      Poderia passa o contato do guia aqui do ABC!

      Obrigado

      Reply
      1. Luis H. Fritsch 13/05/2019at10:41

        Bom dia, sim! Pode falar com o Douglas (11)94306-0283!

        Reply
        1. Anna 08/07/2019at13:51

          Olá Pedro!

          Gostaria mto de fazer esta trilha e gostaria de saber se lá em Paranapiacaba existem guias e o contato deles

          Reply
    3. Anna Pizzaia 08/07/2019at13:42

      Olá Pedro!
      Vc teria o contato de algum guia de SP capital?

      Reply
  11. Enrico 30/04/2019at19:20

    Boa noite!

    Você teria contatos de guia por favor.

    Obrigado.

    Reply
    1. Luis H. Fritsch 30/04/2019at19:37

      Respondido via e-mail!

      Reply
  12. Pedro Cavalcanti 14/03/2022at21:21

    Ola, boa noite!! Alguem saberia me indicar algum guia para realizar a trilha? Por favor!
    Estou que nem um louco atras de algum guia tenho um grupo bom para ir junto comigo.

    Reply

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