Quando deparo com conceito de aprendizado, a memória me remete a 12 de maio de 2017. Naquela noite de sexta-feira fria, típica do inverno da serra gaúcha, ministrei meu primeiro workshop sobre a Curtlo BR na loja Patos do Sul. Foi um rito de passagem, um angustiante e prazeroso teste de maturidade.

Jovenzinha, semblante de moleca e extremamente tímida, enfrentei uma sala com cerca de 20 aventureiros. Creio que pelo menos 90% dos participantes eram mais velhos que eu. Todos, de certa forma, desconfiados da palestrante.

Na verdade, tinha acabado de entrar no time de Embaixadores/Atletas Curtlo BR. No entanto, já utilizava os produtos da marca a anos, participara de diversas provas e treinos de ciclismo e corrida sempre com algum item da Curtlo.

Aceitei o convite da Helen e do Darci, proprietários da loja Patos do Sul e meus apoiadores há anos, para ministrar o workshop. Tomavam-me naquela estreia precoce certa apreensão e ansiedade. Perguntava-me se seria capaz de transmitir meus conhecimentos aos participantes. Ao final daquela primeira lição, contudo, notei aliviada que os aventureiros haviam assimilado minhas dicas. Descobri em mim talentos latentes, habilidades de comunicação nunca imaginadas.

No caminho para a casa da Helen e do Darci, rememorava meu debute como palestrante, avaliava minha performance e a considerei satisfatória.

Percebi que ensinar era o atalho para aprender, fosse na preparação do Workshop ou no exercício mental para responder aos questionamentos do pessoal.

Enquanto Helen preparava o jantar, eu e Darci conversávamos sobre o meu Workshop. – Gostei muito de uma coisa que tu disseste lá na loja “Participo das provas para superar a mim mesma e não aos outros!”, tenha isso como regra!

Helen ao ouvir a frase acrescentou: – Insira isso não só no esporte, mas na tua vida!

Eu estava – como de costume – tímida e um pouco receosa em estar “invadindo” o lar do casal (mesmo o conhecendo há anos).

Assim que Helen serviu o jantar, resolvi fazer a pergunta que desenrolou uma sequência de histórias, lembranças, emoções, lições…

– Como surgiu a Patos do Sul?

– […] viajamos para o Atacama e gastamos horrores em telefonia celular para dar notícias aos parentes. Então quando resolvemos viajar para a Patagônia (seria um mês de viagem), o Darci teve a ideia de fazermos um blog, onde colocaríamos fotos e iríamos contando como estava indo a viagem. Na hora de escolher o nome do blog, veio à tona uma brincadeira que fazíamos entre nós, quando entravamos na Land Rover, na sexta à tardinha, o Darci me perguntava: “Pra onde os patos vão voar?”, numa referência aos Duck Tales – Caçadores de Aventuras. Era uma brincadeira boba entre nós. Aí o blog virou Patos do Sul!

Após algum tempo, já com a lojinha de aventura acabando de nascer, Helen e Darci foram num evento da Ekonova de Mountain Bike e caminhada na Linha Brasil, interior de Nova Petrópolis e levaram um gazebo e alguns produtos para vender. Como etiquetas, usaram uns cartões bem artesanais do blog.

– Depois quando chegávamos a outros eventos, o pessoal dizia: ‘Os Patos do Sul estão ali!’ ou ‘Tem lojinha dos Patos do Sul!’ e, por uma inercia ou simpatia pelo nome, acabou pegando! comentou o casal.

Os primeiros produtos comercializados na loja foram roupas de ciclismo e segundas pele da Curtlo e botas nômade. À cerca de oito anos no mercado, a Patos do Sul só trabalha com marcas conceituadas de esportes outdoors como: Curtlo BR, Solo, Salomon, entre outras; e possui uma equipe especializada no bom atendimento.

– Quando atendemos um cliente, ele é o foco! Esqueço qualquer “distração” ao redor e a concentração vai toda para entender o que ele precisa. Nem sempre o que ele precisa tem que ser a opção mais cara. No ramo da aventura os equipamentos devem ser escolhidos pela função e qualidade e só trabalhamos com marcas confiáveis, como a Curtlo.

– Aprendemos muito com os clientes e não escondemos isso deles! Adoro ouvir as histórias das andanças, superações e, se eu não souber como ajuda-los, vou atrás de respostas.

Após me contarem toda a história do surgimento da Patos do Sul, Helen e Darci conquistaram (ainda mais) a minha admiração e respeito, porque conseguiam manter-se cada dia mais unidos e apaixonados. Gostavam das mesmas coisas: simplicidade, mato, paz e desafios.

Conheceram juntos diversos locais do Rio Grande do Sul, mas adoravam a região de Ausentes e os Cânions. A praia deserta entre o Cassino e o Chuí era visitada quase que anualmente pelo casal. Fora do Brasil a Argentina era uma preferência.

Uma das fotos mais antigas do casal, Ausentes no ano de 1999.
Darci no Cânion Montenegro com os filhos Dolph e Daycce em 2007.
Praia Deserta entre Cassino e o Chuí em 2011.
Aconcágua na Argentina em 2009.

Dentre todas as viagens a melhor aventura escolhida pelo casal, foi a Patagônia.

– […] por dois motivos: a paisagem e a superação em ter que consertar a Land quebrada em Puerto Natales, muito, muito longe de tudo! A união que criamos no foco em solucionar o problema, sem boicotar ou se irritar com o outro, essa sim, representou o grande saldo da viagem! – relembra o casal.

Torres Del Paine em 2010.

Era fascinante ouvi-los, relatando em detalhes todas as emoções e lições enfrentadas durante as aventuras.

– As viagens nos ensinaram tolerância, renuncia e que a “Felicidade só é real se for compartilhada”. Aproprio-me da frase do Cris McCandless, pois não acho palavras melhores para dizer isso. comentou Helen, emocionada.

As viagens eram tão importantes, que eles mediam o casamento em quilômetros rodados juntos ao invés dos anos. Foram quase 20 anos juntos, um tempo de aprendizado, paixão, fidelidade, amor. Um amor que hoje, transformou-se no mais lindo sentimento de carinho e respeito que Helen pode sentir.

Em novembro de 2017 o aventureiro Darci foi desbravar outros locais…

“Pra onde esse Pato foi voar? Seja onde for, foi levar muita alegria e, já deve estar comandando por lá! Ele deixa muita saudade e um aperto fundo no peito que, com o passar do tempo, esperamos que se transforme numa melancolia bonita. Foi cedo, muito cedo embora. Mas esse sempre foi o jeitão dele mesmo, sempre mandão e teimoso…

Nos deixou o conforto de salvar algumas vidas com sua doação de órgãos. É um alento saber que continua vivo nesse gesto. De nossa parte, seguiremos ainda mais unidos, inclusive com a amigona Nova, que tanta alegria lhe deu…Deve ser bom ser amado assim, né Darci?”

Darci e Nova no Passo do S em 2016.

O Darci nos deixou com uma saudade que espreme o peito, mas também lembranças que vão nos consolar e fortalecer. Ele viveu intensamente, não acreditava em meias medidas, meias palavras, não amava mais ou menos…ele foi grande demais!

3 Comments

  1. Mirante Gelain 11/07/2018at12:54

    Parabéns pelo relato!
    Em cada frase uma lembrança que você levará para toda vida.

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