trilha Cânion da Pedra/SC – Brasil

Fomos convidados a participar da trilha Cânion da Pedra, por nosso amigo Luiz Fernando Soares, guia credenciado do Parque Nacional da Serra Geral/SC – Brasil, e proprietário da empresa de Turismo Receptivo Tec Tur, após receber o convite encaminhamos ofício aos diretores do parque, para assim poder relatar, fotografar e fazer filmagens no interior do Cânion da Pedra.

Com todos estes pré-requisitos formalizados, chegou a hora de cair na estrada, viajar até a cidade de Sombrio/SC, onde ficaríamos hospedados no Camping e Pousada Família Lopes, e  no dia seguinte fazer a trilha no interior do Cânion da pedra.

O começo do dia 10 de Janeiro de 2015 foi assim, solo encharcado, céu nebuloso, enquanto abrimos a barraca fomos presenteados com o sol que aparecia de mansinho entre a espessa camada de nuvens.

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Foto: Marcio Basso
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Foto: Luís H. Fritsch

Após tomar um café da manhã especial na Pousada, partimos pela rodovia SC – 449 em direção a Jacinto Machado/SC, localizada a 21 quilômetros da cidade de Sombrio/SC, passamos pelo centro de Jacinto Machado e seguimos por estrada de terra até uma propriedade particular, onde é possível deixar os carros.

A família que cuida do lugar é apoiada pela direção do Parque Nacional da Serra Geral, prestando ajuda aos guias credenciados do parque, oferecendo resgate em caso de emergências e  também cuidam da manutenção da trilha no interior do Cânion da Pedra. A propriedade é o único acesso à trilha que leva ao interior do Cânion, por isso a família cobra uma taxa de cinco reais por pessoa para entrar na propriedade, um valor irrisório, com a finalidade de colaborar com a família local.

O local tem beleza singular, cercada pelos enormes paredões dos cânions, por campos abertos e gramados gigantescos. Estar ali olhando para tudo aquilo, é indescritível, mesmo com o céu nebuloso e com um pouco de neblina sobre os campos, a beleza era fascinante. O lugar é inspirador trazendo muita paz e tranquilidade, quanto mais olhávamos, mais tínhamos vontade de começar a trilha.

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Trilha Cânion da Pedra – Foto: Marcio Basso
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Trilha Cânion da Pedra – Foto: Luís H. Fritsch
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Trilha Cânion da Pedra – Foto: Marcio Basso

Antes de nos aventurar pelas trilhas do Cânion da Pedra, caminhamos dentro da propriedade em direção a trilha, o guia que estava conosco parou, fez todos se alongarem, explicou os pontos que deveríamos prestar atenção na trilha e nos cedeu polainas protetoras contra picadas de cobras e animais peçonhentos que poderíamos encontrar no decorrer da trilha. As Polainas são de uso obrigatório em trilhas dentro dos Cânions. Também, passou outras instruções de como caminhar e colocar o pé sobre as pedras lisas da maneira mais segura possível, comentou um pouco sobre o uso dos bastões de caminhada em trilhas e por último, disse que era bastante precavido perante a segurança de cada um, iria ser chato algumas vezes, mas isso seria importante para uma trilha bem sucedida.

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Trilha Cânion da Pedra – Foto: Luís H. Fritsch

Depois de todas as instruções recebidas, era hora de por em prática todas as instruções e começar a trilha que teria duração de 8 horas, sendo boa parte dentro do rio. As condições para essa trilha eram médias, pois havia risco de chuva, o leito do rio já tinha subido em torno de 60 centímetros na noite passada, então seria uma trilha complicada, teríamos que ter atenção redobrada e muito cuidado onde colocar o pé, pois a formação rochosa no local é formada por pedras redondas, isso impede boa parte da estabilização do solado do calçado. Com o rio um pouco acima do normal, certamente as pedras estariam boa parte encobertas pela água, isso aumenta muito o risco de quedas durante a trilha dentro do rio.

Na primeira parte da trilha, andamos entre a mata nativa atravessando pequenos córregos e plantações,  parte que exigia bastante equilíbrio e tração, pois a trilha era completamente escorregadia. Parávamos muitas vezes para ajudar os outros caminhantes a transpassar algum obstáculo, evitando assim deslizes durante o trajeto.

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Trilha Cânion da Pedra – Foto: Marcio Basso
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Trilha Cânion da Pedra – Foto: Luís H. Fritsch
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Trilha Cânion da Pedra – Foto: Luís H. Fritsch

Após concluir essa primeira parte, chegamos ao Rio Pai José, sentamos nas pedras em torno do rio para a primeira parada de descano. Nesse momento começamos a entender porque essa trilha é uma das mais difíceis do Parque Nacional da Serra Geral. Muitas vezes eramos obrigados a nos segurar em árvores e até caminhar de quatro em alguns pontos pois estava muito escorregadio, o terreno se apresentava muito lamacento e encharcado.

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Trilha Cânion da Pedra – Foto: Luís H. Fritsch
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Trilha Cânion da Pedra – Foto: Luís H. Fritsch

Uma das coisas que mais me chamou a atenção foi a qualidade da água que corria pelo rio, era incrivelmente cristalina, muito gelada. O guia nos disse que podíamos abastecer nossas garrafas de água sem nenhum problema, uma vez que a água é 100% potável.

Acredito que caminhar em um lugar como esse, com uma beleza intacta e ainda poder desfrutar da água é uma experiência que todo mundo deve ter um dia, essa é uma boa história para contarmos às gerações futuras.

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Trilha Cânion da Pedra – Foto: Luís H. Fritsch

Prosseguindo, continuamos a subir o rio, de fato as pedras eram muito escorregadias, fazíamos correntes humanas para atravessar de um lado a outro do rio, evitando algum tombo por parte dos caminhantes. Caminhamos por um bom tempo até chegar ao primeiro poço, este possui profundidade de sete metros. Nessa altura da trilha já era praticamente meio dia, retiramos os lanches da mochila, compartilhamos uns aos outros os alimentos, alguns resolveram dar um mergulho no poço e aproveitar a água cristalina para relaxar um pouco.

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Trilha Cânion da Pedra – Foto: Luís H. Fritsch
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Trilha Cânion da Pedra – Foto: Luís H. Fritsch
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Trilha Cânion da Pedra – Foto: Luís H. Fritsch
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Trilha Cânion da Pedra – Foto: Luís H. Fritsch

Após a parada para almoço e relaxamento nas águas geladas do Cânion da Pedra, continuamos a subir, a cada passo a dificuldade ia aumentando, as pedras do rio e as quedas de água eram maiores, mais intensas, fazendo a gente caminhar com mais cautela. Conforme íamos contornando os obstáculos que surgiam a nossa frente, a trilha nos fazia ter a certeza que estávamos de fato em um lugar inóspito, que qualquer deslise em falso poderia comprometer a trilha toda e causar grandes lesões. Nessas horas, ter bom preparo físico, saber onde colocar os pés, posicionar as mão e o corpo, fazem toda a diferença para manter o equilíbrio corporal e evitar danos a nós mesmos.

Em função dessas dificuldades fica clara a obrigatoriedade de um guia ao fazer a trilha, pois como o próprio guia informou no início do trajeto, iria ser chato em tudo aquilo que comprometesse a nossa segurança durante as oito horas de percurso. Com atenção permanente ele cuidou de cada detalhe, cada passo que dávamos, inúmeras vezes se ouvia sua voz dizendo: “Não vai por ali; vem por aqui; aperta novamente as polainas; e muitas outras coisas!

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Trilha Cânion da Pedra – Foto: Luís H. Fritsch
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Trilha Cânion da Pedra – Foto: Luís H. Fritsch
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Trilha Cânion da Pedra – Foto: Luís H. Fritsch

Conforme ganhávamos  experiencia em caminhar sobre esse leito rochoso do Rio Pai José, avançávamos  o percurso  até chegarmos em um ponto da trilha chamado de “Brete”, lugar com paredões verticais de aproximadamente 25 metros de altura, largura de uns 4 metros, onde contém um pequeno poço de água entre os dois paredões, cerca de um  1 metro de profundidade. Lembro do guia contar a história deste lugar, dizendo que ali era uma trilha usada pelos antigos tropeiros e essa é a única passagem para conhecer a cachoeira Anna Schiratta, com queda de 70 metros de altura.

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Trilha Cânion da Pedra – Foto: Luís H. Fritsch
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Trilha Cânion da Pedra – Foto: Luís H. Fritsch
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Trilha Cânion da Pedra – Foto: Luís H. Fritsch
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Trilha Cânion da Pedra – Cachoeira Anna Schiratta – Foto: Luís H. Fritsch

Características da trilha:

  • Extensão: 4.500 metros;
  • Profundidade máxima no interior do Cânion: 750 metros;
  • Profundidade média no interior do Cânion: 600 metros;
  • Largura: 2.500 metros;
  • Grau de dificuldade: Alto (exige bom condicionamento físico);
  • Vegetação: Mata Atlântica Submontana, Montana e Nebular;
  • Geomorfologia: Formação Serra Geral.

A trilha durou cerca de oito horas. O percurso foi de grande dificuldade, alguns momentos difíceis, porém foram de muita emoção e adrenalina. A natureza é de grande diversidade  e  de paisagens belíssimas o que compensa o cansaço e o esforço para atingir o seu final. Uma experiência fascinante, vale a pena. Recomendo a todos trilhar esse caminho.

Texto: Luís H. Fritsch

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