Ultramaratona Brasil 2018

Nos últimos dias 17 e 18 de março foi realizada a Ultramaratona Brasil, na cidade de Caieiras – SP, com as modalidades 3, 6, 12 e 24 horas.

Ultramaratonistas de todo Brasil participaram dessa competição que teve como padrinhos os atletas Luciano Prado, recordista sul – americano da corrida 48 horas em pista, e Angélica Almeida, atleta olímpica e duas vezes vice-campeã da São Silvestre.

Foi uma prova organizada por ultramaratonistas para ultramaratonistas, ou seja, organização impecável e preocupada com os atletas, feita por Analu Shiota (atleta da seleção brasileira que participou do mundial das 24 horas no ano passado), Marcos Paulo Espírito Santo (ultramaratonista que também representou o Brasil em Mundiais) e Mariano Moraes (ultramaratonista e técnico da seleção).

A ultramaratona foi realizada na pista de atletismo do Ginásio de Esportes da cidade de Caieiras – SP – Estádio Carlos Ferracini.

O objetivo de uma ultramaratona desse estilo é percorrer a maior distância possível, no caso, o maior número de voltas na pista de 400 m, no tempo estipulado (3, 6, 12 ou 24 horas), dependendo da modalidade escolhida pelo atleta.

Ultramaratona

Tive o privilégio de participar dessa ultramaratona na modalidade 24 horas junto com grandes ultramaratonistas. Foi sensacional correr ao lado de atletas que eu só via e admirava pelas redes sociais e conhecer tantos outros que passei a admirar também.

O início dos treinos

A ideia já existia. Mas, para mim, tudo começou pra valer com um treino desafiador: correr de Blumenau a Itapema numa sexta-feira à noite depois do trabalho. O desafio foi proposto pelo treinador e ultratriatleta Daniel de Oliveira Rodrigues e por seu aluno e nosso parceiro de corridas Adilson Hertel. Aceitei!

Mochilas de hidratação preparadas, alimentação, vaselina sólida e pomada para evitar assaduras e bolhas nos pés… lá fomos nós. Saímos por volta de 22h00 da academia do Daniel, a Clínica Wellness, no centro de Blumenau. Planejamos duas ou três paradas em postos para tomar algo gelado e eventualmente comer alguma coisa extra ou ir ao banheiro.

Nossa primeira parada para alimentação foi por volta da meia noite em frente a um posto, que estava fechado. Comemos um pouco do que levamos e seguimos correndo. O Daniel ainda estava com fome e então paramos em um “cachorrão”, já em Gaspar. O Adilson e eu não quisemos comer, mas nós três bebemos uma cerveja. Hidratar com alegria também é importante! rsrs…

Seguimos correndo… saindo de Gaspar, passamos por Ilhota, até chegar na BR-101 em Itajaí um pouco antes das 3h00 da manhã. Paramos em um posto para banheiro e hidratação.

Seguindo pela BR-101, passamos por Balneário Camboriú quando começava a amanhecer. Paramos em mais um posto para ir ao banheiro. Os meninos comeram alguma coisa e eu tomei um café.

Por volta das 6h00, 6h30 estávamos subindo o Morro do Boi e logo pudemos contemplar aquela vista maravilhosa do mar de Itapema. Seguimos correndo até pouco depois do Posto da Polícia Rodoviária Federal, já em Itapema, onde completamos 72 quilômetros um pouco antes das 7h00 da manhã! Comemoramos felizes nosso feito brindando com um merecido caldo de cana bem gelado!

Mas, queríamos chegar até a praia. Nossos relógios já estavam sem bateria. Seguimos andando pelo acostamento da BR-101, quando uma amiga nossa, a Taíse, seu marido Marco e a filha deles, a Rafaela, passaram por nós buzinando e pararam logo a frente. Foi muito massa nos encontrarmos! Eles nos deram uma carona até à praia e seguiram sua viagem para Zimbros.

Foi um dos melhores banhos de mar da vida! Depois de passar uma noite inteira correndo, entrar naquele mar tinha sinônimo de recompensa, de alegria e de missão cumprida!

Misturamos, num único momento, as três melhores fontes de água e sal: suor, mar e lágrimas!

Ultramaratona

Completado esse desafio, tive a certeza de que poderia participar da prova na modalidade 24 horas.

Treinos intensos

Dali em diante, treinos longos praticamente todos os dias. Naquela semana seguinte ao desafio ainda não tão longos em razão do longão de 72km do final de semana.

Mas, nas duas semanas posteriores, as mais intensas, corri o acumulado de 380km. Foram treinos de 20km a 30km por dia, sendo que nas sextas-feiras, depois do trabalho, fiz uma maratona em cada uma delas. Começamos os treinos das sextas-feiras com o grupo de corrida da Wellness às 20h00 e depois continuamos correndo até completar os 42 quilômetros. Por incrível que pareça para a maioria, foi divertido demais!

Tiveram dias que tive que madrugar pra dar conta de cumprir os treinos. Contratempos de horários que me fizeram correr 25km das 4h20 às 6h45 da manhã. Outros que me fizeram dividir um treino de 30km em 15km matutinos e 15km noturnos. Treinos que corri quase a cidade toda e treinos que rodamos em circuito. Treinos no sol de rachar e treinos debaixo de chuva. Cada um deles fez parte dessa prova. Aproveitei cada um dos treinos com toda minha energia! Corpo e mente presentes o tempo todo!

Ultramaratona

Ultramaratona

Até que chegou a tão esperada semana da prova, com treinos mais curtos só até na quarta-feira.

Preparativos finais

Começava o frio na barriga… ansiedade e nervosismo por uma prova de tamanha importância.

Preparativos a mil: tênis, meias, roupa, viseira, alimentação, hidratação, caixas térmicas, kit primeiros socorros para unhas, eventuais bolhas e assaduras; lençol, travesseiro e toalha para ficar no alojamento da prova e barraca para termos um local para colocar tudo que precisávamos na beira pista.

Ultramaratona

Sexta-feira, 16-03, chegou o dia da viagem! Fomos em três no meu carro, revezando a direção, de Blumenau – SC até Caieiras – SP. A viagem foi bem tranquila e fomos os primeiros atletas a chegar. Um pouco depois chegou nosso amigo de Florianópolis, Cleverson Pohlod, que foi de avião até São Paulo. Arrumamos nossas coisas, deixamos a barraca montada e pegamos os kits da ultramaratona.

Ultramaratona

Logo depois saímos para jantar ali por perto e voltamos para o alojamento. Era uma sala grande com vários colchões onde ficamos com vários outros atletas.

Ultramaratona

Chegou o dia Ultramaranona Brasil 24 horas

Sábado, 17-03, chegou o tão esperado dia.

Fui tomar um banho e fazer meu café da manhã na cozinha do alojamento.

Os meninos foram tomar café numa padaria e comprar gelo para nossas caixas térmicas.

Logo que chegamos na pista, encontramos um dos maiores ultramaratonistas do Brasil, Urbano Cracco, que estava com sua esposa Mine Mizuno, com uma tenda ao lado da nossa barraca. Super simpáticos e queridos. Foram sensacionais conosco! Prazer imenso em conhecê-los!

Preparei os pés com vaselina nos dedos para evitar bolhas, passei pomada para assaduras por baixo das costuras do top e da bermuda, protetor solar, uma última ida ao banheiro e chegou a hora de ir pra largada.

Toda ansiedade e nervosismo ficaram para trás. Estava feliz demais e com um sentimento de serenidade, amor a gratidão! Amor pela corrida, pelo movimento do corpo e paz da mente, pelo dia lindo que estava… por tudo a minha volta! Gratidão por poder correr, por estar ali!

Ultramaratona

Largamos! A corrida fluía tão espontânea… tão natural… não fazia força… Pensei: “devo estar muito devagar”. Conferi meu relógio e estava mais rápido que o programado: pace de 5:30. Fiquei ainda mais feliz! E assim segui entre 5:30 e 6:00 nos primeiros 30km.

Perto das 13h00 a organização serviu massa para os atletas. Peguei meu potinho e garfo na beira da pista e segui andando e comendo. Parei para ir ao banheiro e logo voltei a correr.

O calor era intenso! Sol sem trégua!

O melhor “refresco” foi quando a Mine me ofereceu uma garrafa de água da torneira do campo de futebol para jogar na cabeça… que maravilha!

Ultramaratona

No meio da tarde apareceram umas nuvens de trovoada. Parecia que teríamos um alívio no calor e uma chuva pra refrescar. Mas, as nuvens se foram sem derramar uma gota sequer. E o sol voltou com tudo! Naquele momento já com um ritmo um pouco mais lento, mas seguia correndo bem e feliz!

No início da noite serviram um purê de batata delicioso. Ah, e nessa hora tinha energético também. Bom demais! Mas nada de parar!

Além da alimentação da prova, procurei me alimentar a cada hora e me hidratar de meia em meia hora mais ou menos. Teve até Heineken geladinha que deixamos nas nossas caixas térmicas! Hidratação da alegria… hehe… Mas só um golinho. E mais água!

Ultramaratona

Chegadas as primeiras 12 horas de prova: 22h00 e a primeira meta estava cumprida! Fazer 100 km até metade da prova. 101 km! Estava transbordando de felicidade e gratidão! Fiz uma parada para ir ao banheiro, trocar as meias e passar mais vaselina nos pés e pomada pra assaduras nas costuras do top e bermuda. Bebi suco de jabuticaba com água de coco e voltei pra pista.

O calor deu lugar a um ar fresco maravilhoso. A música na tenda da organização estava animada! Durante quase toda a noite os incansáveis staffs da prova dançavam ao lado da pista nos transmitindo toda energia possível. Foram sensacionais!

Por volta de 1h30 da manhã teve sopa de legumes. Mesmo esquema: potinho da mão e comendo na pista. Nada de parar!

Depois, durante a madrugada, não conseguia nem pensar em comer… mas sabia que precisava de alguma caloria… Nessas horas foi perfeito o “toddynho” que levei… hehe… uma bebida de cacau com whey sem lactose, parecido com um achocolatado mesmo. Foi ótimo!

Mais tarde o corpo pedia algo salgado. Foi a hora de parar pra fazer um pão com salame e queijo defumado! E um gole de Heineken pra acompanhar! Energias renovadas, mais água, mais suco e segue a prova.

Quando estava começando a amanhecer, troquei a camisa por uma seca e fiz uma liberação na musculatura da coxa que começava a dar os primeiros sinais de que precisava de atenção. Mais vaselina e “bora” pra pista (Obrigada, Jucian, pelo empréstimo do rolinho de massagem!)

O amanhecer foi extraordinário! Depois das cores do degrade, surgiu um céu azul, limpíssimo! Alguma voltas depois, já estavam servindo um café na tenda da organização.

O calor voltou com tudo! A lateral da coxa gritava! Mas em nenhum momento pensei em parar. Fiz algumas voltas caminhando… voltei a correr… colocava gelo por dentro da lateral da bermuda e bora lá!

Por fim, já estávamos quase todos caminhando e trocando experiências a cada volta. Alguns já tinham parado. Eram quase 10h00 quando combinamos todos de seguir caminhando juntos para a chegada da última volta das 24 horas. Quanta emoção!!! Completar a ultramaratona com tanta energia e alegria… não tenho palavras…

UltramaratonaUltramaratona

Que privilégio! Aprendi muito e me diverti muito também! Corri feliz e energizada! A energia de todos que torceram, de perto, e de longe, foi demais! Agradeço muito.

Minha meta pessoal, além do índice para o intercontinental (155km), era completar 166km (dobro do que fiz na Alemanha ano passado quando estava lesionada). Feliz demais por ter alcançado!!! Foram 172,6km no total na Ultramaratona Brasil 24 horas!

Ultramaratona

E tive ainda a honra de ir para o pódio como vice-campeã, com o 2.º lugar geral feminino!

Ultramaratona

Gratidão imensa é o sentimento que resume tudo que vivi nessas 24 horas!

Mas não acabava ali… hora de voltar pra Blumenau. Dirigir, mesmo revezando, depois da ultramaratona, não foi nada fácil. Juro que foi mais difícil que correr… hehe… mas fez parte da nossa prova! Foi tudo maravilhoso!

E a organização já está preparando a edição 2019, que será no mesmo local, e promete ser ainda melhor que a desse ano!

Leave A Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *