3º DIA: Quinta-feira 21/08/2014.

Acordamos assim que começou a clarear o dia. Tínhamos pressa, pois nosso objetivo era acampar na placa 2 do Ciririca, onde deveríamos encontrar o Sérgio Sampaio de SC, que estava fazendo a Travessia Fazenda do Bolinha x Graciosa.

Fizemos o café de dentro da barraca com uma bela vista do amanhecer.

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Assim que terminamos, peguei as minhas botas para calça-las e aproveitei para dar mais uma verificada no acampamento ao lado. Caí na risada com o que vi: a iglu desmontou com o vento. Fiquei imaginando os quatro socados naquela barraca capenga.

Mochilas arrumadas, partimos para o União e depois o Ibitirati. Estávamos com pouca água, somente o suficiente para molhar a boca.

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Pegamos a trilha perto da caixa do cume do PP para o União. Era uma descida um pouco íngreme e chatinha, ainda mais que de manhã fico completamente descoordenada para caminhar.

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Marcamos no GPS o cume do União e rumamos para o Ibitirati.

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A subida era bem tranquila, mas com mato bem fechado com arbusto com galhos finos que rasgavam a pele. Na real, nós já estávamos com a pele bem cortada devido especialmente às taquarinhas. Mas ali no Ibitirati foi um plus. Marcamos também o cume do Ibitirati (1850 metros), e tiramos fotos.

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Para entender o que são as escalaminhadas desta travessia!

Logo já estávamos de volta ao PP para assinar novamente o Livro do cume e registrar nossa ida aos outros picos do Maciço do Ibiteruçu, bem como a nossa meta de chegar ao Ciririca até o fim do dia.

Começamos a descer a trilha do PP para encontram o Fábio e o Marcelo.

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Ali perto deveríamos pegar a entrada da trilha até o Pico Camelos. Os nossos amigos optaram por não nos seguir e combinamos que eles iriam seguir o resto do roteiro do dia, partindo para o Itapiroca e mais adiante nos encontraríamos novamente.

Para “variar” o trajeto do GPS que o Tiago recebeu estava errado e foi muito difícil de encontrar a entrada da trilha. Deduzindo o local, entramos mato a dentro para achar a trilha para o Camelos. Por diversas vezes fiquei enroscada no meio da vegetação, isso que estava com a mochila menor. Imagina se fosse a grande!

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Novamente, depois de muito sobe e desce, encontramos a trilha bem batida que ia para o Camelos (1555 metros). Novamente, chegamos ao cume, tiramos fotos e registramos no GPS.

Não deixo de registrar a nossa decepção com o Camelos: pouca vista, ainda mais que perdemos um bom tempo tentando achar a sua trilha, além de ter conseguido mais uns ferimentos com o mato fechado da “trilha errada”.

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Para voltar à trilha do PP, pegamos a trilha batida certinha. Ela saía um pouco mais para cima de onde entramos, bem próxima à Casa de Pedra.

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Pelo visto, a entrada dessa trilha “oficial” do Camelos serve também de banheiro pela quantidade de papel higiênico que havia por ali.
De fato, o PP estava tapado por pedaços de papel higiênico até mesmo no cume. Isso foi algo que me deixou bastante chateada: a falta de educação das pessoas com a montanha.

Quando começamos a descer no sentido do Itapiroca, eu e o Tiago combinamos de não almoçar e fazer um rápido lanche para não perder tempo e conseguir cumprir nossa meta do dia. Como os guris foram na frente, provavelmente eles iriam almoçar antes de nos encontrar.

Seguimos descendo rapidamente o PP. No último lance de via ferrata, apoiei a mão direita em um dos grampos, abri o braço esquerdo e apoiei a mão em uma outra que estava ao lado e… Lembra do ombro machucado? Pois é, senti uma forte fisgada nele. Daquele tipo de dor que reflete para o resto do braço. Soltei espontaneamente um “ai”. Em seguida a dor passou, foi só um “choque”.

Pegamos água no início da trilha para o Itapiroca. Que alívio! Com o clima seco e quase sem beber água desde a noite do dia seguinte, já estava sentindo muita falta deste liquido precioso.

A subida para o Itapiroca foi um “passeio”: bem aberta e fácil.

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Ficamos tagarelando e combinamos de chegar ao Ciririca ainda naquele dia nem que fosse à noite! E imaginamos onde estariam os guris. Naquelas alturas eles já deveriam estar bem longe devido a nossa demora para chegar ao Camelos.

Chegando na área de acampamento do Itapiroca encontramos o bastão de caminhada do Fábio atirado no chão. Pronto, o Fábio abandonou o bastão para diminuir o peso.

Que nada, assim que tivemos maior amplitude de visão pudemos ver o Fábio e o Marcelo sentados apoiados numa pedra, começando a abrir as mochilas. Eles ficaram nos olhando boquiabertos e exclamaram:
– Já? Mas nós recém chegamos! Achamos que vocês fossem demorar mais.

Decidimos em fazer um lanche ali mesmo para não perder mais tempo. Em seguida continuamos o nosso trajeto.

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Dali do topo do Itapiroca (1780 metros) já era possível enxergar os cumes do Tucum e Camapuã, meus dois primeiros cumes na Serra do Ibitiraquire.

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Não passaríamos por eles nessa travessia, mas guardo com carinho as lembranças daquela trilha, especialmente na companhia dos amigos, Daniela Faria, José Geraldo, Diele e Dalla Trekker.

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O cume seguinte seria o do Cerro Verde.

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No fundo do vale, para a subida ao cume, havia uma marcação com a fita da travessia “Alpha Crucis” realizada em 2012 por Élcio Douglas e Jurandir, considerada a travessia mais difícil do Brasil.

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No lugar chamado de Ombro Verde que antecede o cume do Cerro Verde é possível de ver a tarde a “face” no Pico Paraná.

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O cume do Cerro Verde (1618 metros), possui a melhor vista do maciço do Ibiteruçu e especialmente do Ciririca.

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O Ciririca é conhecido como o K2 paranaense e antes da travessia havia lido diversos relatos de ataques e travessias que passavam por ali. Diversas pessoas falavam das terríveis cordas e da rampa. Meu Deus!

Eu e o Fábio estávamos imaginando como seria a terrível rampa do K2 paranaense. Na nossa ideia deveria ser algo pior que a face leste do Ferraria pelos relatos. Bom, naquela altura da travessia já estávamos preparados para tudo. Mas a curiosidade sobre o K2 paranaense aguçava muito.

Depois do Cerro Verde, os próximos cumes seriam Meia Lua, Pico do Luar e Sirizinho.

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Eu, na minha expectativa infantil, estava louca para chegar nesses cumes. Os nomes me agradavam e imaginava uma vista maravilhosa da serra dos seus cumes. Que nada! Virado em mato espinhento.

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Quando estávamos chegamos ao Pico do Luar, o sol já estava se pondo.

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Quando começamos a descer o Sirizinho, pegamos nossas lanternas de cabeça. Pois estávamos dispostos a acampar nas placas do Ciririca ainda naquela noite, ainda mais que marcamos de encontrar o Sérgio naquela data.

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Próximo a base do Sirizinho, o mato estava bem fechado. E como já estava escuro, seguimos em ritmo mais lento, entre ataques de mosquitos e mais taquarinhas. Cuidando onde estávamos pisando para não cair em nenhuma greta.

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A trilha alternava entre pedras de rio e mato. O Fábio e o Marcelo que estavam com mochilas maiores, penavam para se desvencilhar das taquarinhas e dos galhos das plantas. Se de dia já era complicado, de noite era pior ainda! Então a todo momento virava para trás para ver se eles estavam vindo junto. Numa dessas “olhadas”, quando fui virar novamente o rosto para frente, um galho espinhento entrou no meu olho e um espinho ficou cravado no olho direito. Consegui tirar e em seguida passou a dor.

Para evitar que alguém se perdesse, quem ia na frente esperava o de trás aparecer e iluminava em direção do colega para que ele enxergasse a localização. Esse método também adotamos nos trechos de mato mais fechado.

Mas em um determinado trecho as fitas começaram a ficar escassas e íamos e voltávamos tentando encontrar a continuação da trilha. Mesmo navegando no GPS, o Tiago não encontrava o caminho já que o trajeto que tinha não era muito preciso. Andar no mato no escuro é algo bem complicado, ainda mais quando não se conhece o local. Não é uma prática muito recomendável.

Então chegamos em um determinado ponto e o mato se fechou novamente, o Tiago falou para voltar e pediu para que nós três tentássemos visualizar alguma trilha ou avisar uma fita.

Fiquei iluminando para as árvores até que enxerguei uma fita vermelha.
– Ali tem uma marcação de fita!
Exclamei apontando para uma árvore.
– Uhu! Achamos!
Eu e o Fábio comemoramos o meu “achado” batendo as mãos.
Mas o meu “achado” era na verdade uma clareira, provavelmente de um acampamento de alguém.

Como estava bem difícil encontrar a trilha naquela escuridão e seria desgastante continuar procurando sem resultados. Decidimos acampar ali mesmo naquela clareira. Local limpinho e com água por perto: perfeito! O espaço acomodava tranquilamente uma barraca e outras duas bem apertadas. Então nós decidimos bivacar já que o tempo estava bom.

Estendemos o footprint no chão e o sobreteto da barraca por cima dele para depois só colocamos o isolante. O Marcelo foi o único que preferiu montar a barraca, conseguindo um pequeno espaço irregular. O Fábio fez seu bivaque ao nosso lado. Fomos dormir logo depois que jantamos pelas 21:00.

Deitei de barriga para cima e fiquei olhando o céu estrelado entre as árvores. E assim adormeci. Foi a melhor noite de toda a travessia!

Dados do 3º dia da travessia:
Distância: 9,65 Km a pé.
Altimetria: 1727 metros de aclive acumulado e 2178 metros de declive acumulado.

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Google Earth:

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Texto: Luciana Gomes Moro
Fotos e dados: Tiago de Pellegrini Korb
Site: www.clubetrekking.com.br

Relatos: 1°dia, 2°dia.

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