Um dia ensolarado em uma tarde de sábado no início do inverno, fui para conhecer ou até mesmo reconhecer lugares, até aqui tudo dizia que seria uma aventura perfeita.

Podem estar se perguntando o que eu quero dizer com “reconhecer”? A medida que crescemos, amadurecemos, adquirimos conhecimentos e passamos a ver o mundo a nossa volta de uma forma diferente. Por várias vezes pensamos que não é necessário voltar a um lugar que já visitamos, porque lá veremos as mesmas paisagens que da primeira vez, mas podemos nos enganar.

Cada visita nos dá a oportunidade de ter uma percepção diferente. A maneira que observamos e percebemos as sensações,  estas que estão sempre diretamente relacionados ao momento que estamos vivendo de fato, digo isto pois, costumo voltar inúmeras vezes ao mesmo lugar, para assim comprovar a minha opinição.

Como exemplo, vou ilustrar minha última visita a Ivoti, há alguns dias atrás.

Ivoti é uma cidade agradável, hospitaleira, que localiza-se a 55 quilômetros de Porto Alegre/RS – Brasil, a cultura e as pessoas que moram ali são de origem alemã, possui como pontos turísticos principais o Belvedere, a Colonia Japonesa, o Núcleo de Casas Enxaimel, a Ponte de Imperador e a Cascata São Miguel.

Visitamos o Belvedere, este tem uma vista linda do vale e também o Núcleo de Casas Enxaimel que continua muito bonito. Confesso a vocês, que não costumava observar as cores que existem no entorno da Ponte do Imperador.

Mas preciso lhes dizer que existe uma transformação acontecendo. Creio que seja para trazer mais conforto aos turistas que visitam a cidade.

Aventura quase perfeita - Ivoti/RS
Foto: Marcio Basso

Quando conheci o lugar, há mais de 10 anos, era um dos meus lugares preferidos para ir no sábado e domingo à tarde, reunir a família e tomar uma chimarrão.  Havia um grande gramado a beira do Arroio Feitoria, onde podíamos sentar no chão, no sol quentinho do inverno, que hoje dá lugar a um espaço coberto para eventos.

O mundo evolui, tenho consciência disso, mas fico pensando: é preciso tudo isso? Como trazer novamente aquela beleza que havia aqui, fazer o natural prevalecer em meio as novas e modernas construções? Estas são perguntas que ainda não tenho as devidas respostas, mas as faço para podermos refletir sobre isso. Também não acontece apenas nesta cidade, mas em muitos outros lugares que todos nós conhecemos.

Hoje não é possível sentar à margem do Arroio Feitoria, sem sentir o cheiro do esgoto, que vejo correr pela beira.

Paramos várias vezes durante a caminhada para olhar a paisagem, fazer fotos, tentar apreciar o máximo a natureza ali presente, sentamos na guarda da Ponte do Imperador para apreciar o contato das pessoas com tudo que existe ali na volta, realmente lindo ver as famílias reunidas, apreciando o belo, o natural que ainda permanece ali, fazendo fotos para recordações, mas nada me fazia esquecer a visão do cano na beira do arroio liberando a sujeira.

Aventura quase perfeita - Ivoti/RS
Foto: Marcio Basso

Dali partimos para a Cascata São Miguel, na divisa com a cidade de Dois Irmãos, que conserva uma das primeiras hidrelétricas do Rio Grande do Sul/Brasil. Construída em 1912 e desativada em 1971. A queda d’água possui aproximadamente 35 a 40 metros e possibilita um belíssimo visual.

Aventura quase perfeita - Ivoti/RS
Foto: Marcio Basso

Seguindo a estrada que passa em frente as casas do núcleo, chegamos a um ponto onde já podíamos visualizar o Arroio, próximo a Cascata.  Encostamos o carro e seguimos a pé.  Eu comecei a observar  margem, vi placas, vi lixeiras, vi lixo. Penso que é possível deduzir o que senti: tristeza.

Seguindo pela mesma estrada e chegamos a uma ponte que dá acesso a outra margem do arroio, onde se tem um acesso mais próximo a Cascata para fazer fotos. Sentimos um cheiro forte de esgoto, olhamos em volta e localizamos um encanamento improvisado que joga os dejetos do esgoto no Arroio, e não era pouca coisa. Ele desce o Morro e vem de um Bairro de Dois Irmãos que fica na parte superior da Cascata.

O que é  bonito torna-se triste. Ver toda aquela agressão acontecendo e não conseguir fazer nada para ajudar, me achei um ser inútil em meio a tudo aquilo.

Estava a dias para escrever sobre isto, mas tive um certo ressentimento de ser mal interpretada. Não sou contra a evolução material,  não me entendam mal. Sou apenas contra ao desrespeito com o meio natural onde vivemos.

Como a Natureza se sente quando agredida?  Como nós nos sentimos quando somos agredidos? Como nos sentiríamos se fossemos um peixe tentando sobreviver às águas poluídas?

O que era para ser uma aventura perfeita, pela beleza que se esperava observar,  deixou meu coração triste.

A natureza em sua grandeza lutando para sobreviver em meio a evolução humana. Mesmo grandiosa, ela é humilde, cede o seu espaço, cede os recursos e só o que precisaríamos fazer seria ao menos respeita-la.

Termino estes escritos com o coração partido, mas não sem esperança,  porque sei que cada um de nós fazendo a sua parte, dando seu exemplo, tornará possível essa mudança.

“A poluição do planeta é apenas um reflexo externo de uma poluição interior psíquica gerada por milhões de indivíduos inconscientes, sem a menor responsabilidade pelos espaços que trazem dentro de si.” Eckhart Tolle

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