Escalando a cachoeira Salto Angel – Venezuela

História da Região:

O Salto Angel, situado no Parque Nacional de Canaima, na Venezuela, é a maior queda de água do mundo, com 979 metros de altura. Seu nome, na língua dos Pemons, os indígenas da região, é Kerepakupai-meru (queda de água até o lugar mais profundo). O salto cai do Auyantepui, que é umas das dezenas de montanhas em formato de mesa chamadas tepuis. Estas são consideradas as mais antigas do planeta.

O povo Pemon tem uma ligação muito forte de respeito e medo com relação aos tepuis. Segundo as suas lendas, os tepuis eram as árvores gigantes que continham os frutos da vida, os quais forneciam super-poderes aos semideuses Makunaimas, seus antepassados. Todavia, numa disputa entre dois Makunaimas, um deles cortou um tepui e a partir daquele momento os Pemons perderam os seus poderes. Para eles os tepuis são como troncos de árvores, e, realmente têm esta semelhança.

Os índios Pemons atualmente fazem o papel de guias na região, papel este que executam com maestria, pois são profundos conhecedores do enorme planalto denominado Gran Sabana. Pudemos notar durante a viagem que a vegetação de savana e de floresta se mesclam pelo caminho, ao ponto de, em alguns momentos, termos savana em uma margem do rio e floresta do lado oposto. Outro item que nos chamou bastante a atenção foi o meio de transporte dos índios. Pela Gran Sabana não há estradas e os Pemons se locomovem pelos rios. Usam todos os tamanhos de canoas e entre elas a maior é a Kuriara, um tipo de canoa gigante. A nossa media 12 metros de comprimento e era feita de uma só árvore.

Segundo o pessoal da região os mestres que fabricam as kuriaras se retiram para a floresta, cortam a árvore e constroem a enorme canoa ali mesmo, realizando o trabalho ritualisticamente, num processo que pode durar mais de um ano. E é proibido assisti-los construindo a embarcação. O contato que tivemos com os pemons nos deixou boas impressões; apesar da timidez, foram muito hospitaleiros e prestativos.

Os nativos da região já conheciam o Salto Angel, mas quem o divulgou para o ocidente foi o aviador americano Jimmy Angel. Em 1937 o avistou pela primeira vez e no final daquele ano fez uma tentativa de pouso no cume do tepui que acabou por atolar seu pequeno avião. Ele e sua equipe de apoio levaram 11 dias para poder descer do Auyantepui caminhando. Atualmente existe uma trilha que sobe o tepui até o Salto Angel partindo da aldeia de Uruyen, porém são raras as expedições que realizam este longo trajeto, pois são 7 dias de caminhada só para chegar ao salto pelo topo do tepui.

Sempre há a necessidade de se contratar um guia, pois lá em cima há um labirinto gigantesco de pedras, fendas escondidas, charcos, rios e florestas. Só para se ter uma idéia, o topo do Auyantepui tem área de700 quilômetros quadrados. Muito maior, por exemplo, que a cidade de Curitiba/PR – Brasil, com 446 Km². Tendo em vista todas essas dificuldades, a maioria dos turistas se aventura pela parte baixa do Salto Angel. Com os rios cheios, em um dia de barco desde Canaima, chega-se a Isla Raton. Deste ponto em 40 minutos de caminhada é possível atingir o Mirante do Salto Angel de onde se tem uma visão privilegiada da maior cachoeira do mundo. Consulte: www.exploratreks.com. Quem quiser conhecer um pouco mais sobre os tepuis pode assistir a animação da Disney Pixar Up Altas Aventuras. Nos extras aparece a equipe de produção explorando a região.

Salto Angel

Histórico da Escalada:

A parede da Gran Bóveda, espécie de anfiteatro que abriga o Salto Angel, a maior cachoeira do mundo, com 979 metros, na Venezuela, consistiu de um dos maiores desafios de todos os tempos para a comunidade escaladora mundial. Rechaçou muitos times durante vários anos, provavelmente porque seja a maior “parede negativa do mundo” (site Planet Fear). Até que em 1990, dois dos maiores bigwaleros (escaladores de grandes paredes) do mundo, os espanhóis Jesus Galvez e Adolfo Medinabeitia, após uma investida de 26 dias, abriram a via Directa, que é a linha natural daquela parede. A linha percorre formações de fissuras e blocos empilhados, por rocha descomposta e muitas vezes extremamente afiada. Foram 31 cordadas e até A4 (numa escala que vai até A5) de dificuldade de escalada artificial. Em 2005, o inglês visionário John Arran, após duas tentativas anteriores, conseguiu, com uma equipe de 7 pessoas, não só repetir a via, mas escalar todas as cordadas em livre em 19 dias. O que significa que a equipe de Arran encadenou todas as cordadas, ou seja, as repetiu cada uma das 31 cordadas sem quedas e sem se apoiar nas proteções que colocava na rocha, o que era um enorme feito, devido à alta dificuldade da escalada e precária proteção da via. Além disso, conquistaram uma variante temerosa no final parede, ainda mais exposta que o que haviam encontrado até ali e rebatizaram a via de Rainbow Jambaia, em homenagem aos magníficos arco-íris que se formam diariamente nas águas da cachoeira. A segunda palavra do nome refere-se às iniciais dos nomes de todos os integrantes da equipe. Em 2006, um time liderado pelo famoso escalador francês Arnaud Petit faria a segunda repetição, também em livre e confirmando a fama de extrema da rota.

Em suas palavras, retiradas do site: Planet Fear:

In French grading it means that 7b (8b brasileiro) sections are compulsory and dangerous and the hardest pitches would be graded like this: 4 pitches 7c/7c+ (9a/9b BR), 4 pitches 7b+ (8c BR), 5 pitches 7b (8b BR), 5 pitches 7a/7a+ (7c/8a BR), 5 pitches 6c/7a (7b/7c BR). The easier pitches are either on loose or wet rock; actually there are no “easy” pitches.

Well. We got shattered. At the bottom of the wall it’s way scary! It’s gloomy, you get the waterfall right in your face, the overhang is weighing upon you, and you can see the rock is shitty… In fact some pitches are really scary! In one of them it’s simple: you fall you die! And it’s no cushy climb, rather 7b+ (8c BR). We classified every pitch in three categories: either exposed, very exposed or super exposed!

Tradução:

Em graduação francesa significa que as seções de 7b (8b brasileiro) são obrigatórias e perigosas e as cordadas mais difíceis podem ser graduadas assim (em graduação brasileira): 4 cordadas 9a/9b, 4 cordadas de 8c, 5 cordadas de 8b, 5 cordadas de 7c/8a, 5 cordadas de 7b/7c. Os esticões mais fáceis são ou em pedras soltas ou molhadas; na verdade não existem cordadas fáceis.

Salto Angel

Bem. Sentimo-nos destruídos. Na base da parede é muito assustador! É aterrador, a cachoeira direto na cara, a negatividade pesando sobre você, e dá para ver que a rocha é muito ruim. De fato, algumas cordadas são realmente assustadoras! Em algumas delas é simples: se cair, morre! E não há escalada cômoda num 7b+ (8c BR). Classificamos cada cordada em 3 categorias: expostas, muito expostas ou super expostas!

Lendo as impressões acima, descritas por um cara que já foi campeão mundial de escalada esportiva e que agora se dedica à escalada tradicional, muitas equipes desistem antes mesmo de começar a organizar a expedição! Claro que quando li este relato pensei comigo que o Arnaud Petit estivesse exagerando, afinal ele era um escalador esportivo francês, acostumado com chapeletas de 2 em2 metros… O problema é que não estava, na verdade ele não exagerara em nada!

Continuação do relato, clique aqui.

Autorizado a duplicação do post por: Conquista Montanhismo
Texto: Edemilson Padilha

 

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